Rotas tecnológicas para transformar lixo alimentar em materiais avançados

recycle-29227_1280

Bioeconomia circular 

Um grupo de pesquisadores do Brasil resolveu fazer uma revisão da literatura científica para organizar os avanços feitos ou em andamento na questão de transformar resíduos agroalimentares em materiais de alta tecnologia.

O intuito é verificar o quanto já se avançou e quais áreas necessitarão de foco e prioridade para um caminho mais rápido rumo a uma bioeconomia circular.

“Fizemos uma revisão crítica de toda a literatura e reposicionamos o estado da arte nas estratégias para transformar perdas e desperdícios agroalimentares em bioplásticos e materiais avançados. Procuramos, mas não encontramos, argumentos para não fazê-lo. É um ganha-ganha,” disse o professor Caio Otoni, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), idealizador do projeto.

Como alternativa às modalidades mais rústicas e ambientalmente duvidosas de aproveitamento dos resíduos agroindustriais, como, por exemplo, seu emprego na alimentação do gado, o estudo mostra que a biomassa descartada ou subutilizada, de baixo custo, pode ser convertida em bioplásticos e materiais avançados, utilizáveis em uma ampla gama de dispositivos de alto valor agregado.

As aplicações englobam embalagens multifuncionais, inclusive embalagens antivirais, antimicrobianas e antioxidantes; equipamentos eletrônicos flexíveis; dispositivos biomédicos; equipamentos para geração, armazenamento e transmissão de energia; sensores; materiais para isolamento termoacústico; cosméticos etc.

Alimentos-materiais-energia

Transformar resíduos em recursos é um dos vetores da chamada economia circular – quando esses resíduos são advindos da biomassa, caracteriza-se a bioeconomia circular.

“O nexo alimentos-materiais-energia é muito relevante para a bioeconomia circular. Nosso objetivo foi apresentar as estratégias mais avançadas para desconstruir resíduos agroalimentares; converter o resultado em blocos de construção monoméricos, poliméricos e coloidais; e, com base neles, sintetizar materiais avançados,” afirmou Daniel Corrêa, da Embrapa de São Carlos, membro da equipe.

Uma das dificuldades para levar as pesquisas do laboratório para a economia real está na sazonalidade da própria geração dos resíduos agroalimentares: Determinados resíduos são abundantes em certas épocas do ano e escassos em outras. Além disso, quando disponíveis, a própria composição dessa pretensa matéria-prima é, geralmente, variável.

Mas a equipe concluiu que o principal obstáculo à reutilização em larga escala dessa biomassa não é de natureza técnica, mas política. A esperança é que empresas emergentes e empresas tradicionais altamente inovadoras rompam essas barreiras e conduzam esse processo.

Escalonamento

As vias tecnológicas para esse aproveitamento existem, e as diversas equipes que as desenvolveram já dominam cada uma em escala de bancada, ou mesmo, em alguns casos, em escalas semipiloto ou piloto.

“Há vários exemplos a mencionar, incluindo trabalhos com produção de materiais a partir de resíduos de manga, banana, trigo, caju etc,” exemplificou Henriette de Azeredo, outra autora do artigo.

A equipe cita uma técnica para produzir materiais a partir de um processamento mínimo da cenoura e sua conversão em bioplásticos. Essa técnica já está funcionando em escala semipiloto no Laboratório de Nanotecnologia para o Agronegócio, da Embrapa.

Os pesquisadores também citam as técnicas para produção de espumas antimicrobianas a partir do bagaço da cana-de-açúcar; embalagens derivadas de quitina extraída das carapaças de crustáceos e insetos; e partículas para estabilizar emulsões, com potencial de aplicação nas indústrias de fármacos, cosméticos e tintas.

Bioeconomia brasileira

As pesquisas feitas no Brasil estão fortemente afinadas com a economia do país, que se destaca como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e de cítricos, além de ocupar também posição de destaque mundial na produção de muitos outros alimentos.

Outra linha de atuação está no desenvolvimento de técnicas para reaproveitar a significativa perda e desperdício de alimentos, sobretudo associadas a frutas e hortaliças, das quais cerca de um terço da produção é perdida ao longo da cadeia.

“Muitas dessas perdas e desperdícios de comida contêm elevados níveis de vitaminas, minerais, fibras e proteínas que, idealmente, poderiam ser convertidos de volta em alimentos. No entanto, devido aos padrões alimentares, a maioria é microbiologicamente e sensorialmente inadequada e, assim, preterida. Daí a alternativa de converter os resíduos em plataformas químicas e materiais úteis, potencialmente em dispositivos com alto valor agregado. Devido ao grande e crescente volume de perda e desperdício de comida, existe um interesse genuíno por parte dos produtores de alimentos em valorizar tais fluxos,” destacou o professor Caio.

Um exemplo é a produção de bioplásticos comestíveis desenvolvida pelo pesquisador Luiz Mattoso, um dos líderes dessa linha de pesquisa na Embrapa.

Fonte: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=bioeconomia-rotas-tecnologicas-transformar-lixo-alimentar-materiais-avancados&id=010125211214#.YemTCv7MLIU

De Redação do Site Inovação Tecnológica com informações da Agência FAPESP